Sensibilidade [a minha]


Intrigam-me, num sentido literal e quase assustador, as pessoas que não se deslumbram com uma simples flor do campo, com uma folha de Outono ou com uma mera gota de chuva. Intrigam-me as pessoas que não se emocionam com um filme, com um livro, ou simplesmente com um anúncio de televisão. As pessoas que não se sensibilizam com a doçura dos animais ou com a inocência das crianças. Entristece-me descobrir que cada vez mais estou rodeada de pessoas que não param para apreciar o céu ou ouvir o vento. Tenho consciência que não somos todos iguais, nem tão pouco temos que gostar das mesmas coisas. Aliás, nem poderia ser assim, o mundo tombaria num instante. Mas confesso que por vezes me sinto um pouco incompreendida no meu "excesso" de sensibilidade, e talvez por isso me esforce por tentar compreender e aceitar a falta dela nos outros. Tenho de o fazer, mas quando não consigo, apoio-me na ideia de que nos compensamos mutuamente com a partilha de opiniões e a troca de emoções. A minha sensibilidade é a minha força e não peço desculpa por isso, porque no fim, o que realmente importa é o que nos faz sorrir e o que nos aquece o coração. Se há quem prefira não sentir os pequenos e simples detalhes da vida, é uma opção à qual tem todo o direito.

Helga Piçarra

É Urgente Sermos Mais HUMANOS


Abram os olhos. Somos umas bestas. No mau sentido. Somos primitivos. Somos primários. Por nossa causa corre um oceano de sangue todos os dias. Não é auscultando todos os nossos instintos ou encorajando a nossa natureza biológica a manifestar-se que conseguiremos afastar-nos da crueza da nossa condição. É lendo Platão. E construindo pontes suspensas. É tendo insónias. É desenvolvendo paranóias, conceitos filosóficos, poemas, desequilíbrios neuroquímicos insanáveis, frisos de portas, birras de amor, grafismos, sistemas políticos, receitas de bacalhau, pormenores. 

É engraçado como cada época se foi considerando «de charneira» ao longo da história. A pretensão de se ser definitivo, a arrogância de ser «o último», a vaidade de se ser futuro é, há milénios, a mesmíssima cantiga. Temos de ser mais humanos. Reconhecer que somos as bestas que somos e arrependermo-nos disso. Temos de nos reduzir à nossa miserável insensibilidade, à pobreza dos nossos meios de entendimento e explicação, à brutalidade imperdoável dos nossos actos. O nosso pé foge-nos para o chinelo porque ainda não se acostumou a prender-se aos troncos das árvores, quanto mais habituar-se a usar sapato. 

A única atitude verdadeiramente civilizada é a fraqueza, a curiosidade, o desespero, a experiência, o amor desinteressado, a ansiedade artística, a sensação de vazio, a fé em Deus, o sentimento de impotência, o sentir-mo-nos pequeninos, a confissão da ignorância, o susto da solidão, a esperança nos outros, o respeito pelo tempo e a bênção que é uma pessoa sentir-se perdida e poder andar às aranhas, à procura daquela ideia, daquela casa, daquela pessoa que já sabe de antemão que nunca há-de encontrar. O progresso é uma parvoíce. Pelo menos enquanto continuarmos a ser os animais que somos. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Explicações de Português'

Decisões


Admiro as pessoas que assumem sem receio o controlo da sua própria vida. Pessoas que confiam nas suas próprias decisões. Tomar a decisão certa no momento certo, pode mudar uma série de acontecimentos que aconteceriam de uma outra forma apenas por se tomar a decisão errada. Mas como saber o que é certo ou errado num determinado momento? Como escolher as palavras e as acções que poderão determinar o nosso presente e influenciar o nosso futuro? Muitos diriam que por instinto. Talvez sim, talvez não. Há pessoas que arriscam mesmo quando sabem que as hipóteses de falhar são maiores do que as hipóteses de acertar. Afinal de contas falhar é nada mais que a oportunidade de fazer de novo, mas melhor. Quem não arrisca não erra e quem não erra não aprende. Somos um ciclo interminável de opções e possibilidades. Na verdade saber escolher o momento certo é um talento que todos possuímos, porém apenas alguns de nós têm a capacidade de usufruir do direito à opção de escolha sem recear as suas consequências. Serei eu uma dessas pessoas? Gosto de pensar que estou no caminho certo para fazer as escolhas que me darão a oportunidade de continuar a aprender com os meus erros. Acima de tudo quero assumir o controlo da minha vida e determinar o meu presente sem temer as consequências do meu futuro. E tu? Confias nas tuas próprias decisões?

Helga Piçarra