Imagem: HELGA
Rosas que desabrochais
Como os primeiros amores
Aos suaves resplendores matinais
Em vão ostentais, em vão
A vossa graça suprema
De pouco vale; é o dilema da ilusão
Em vão encheis de aroma o ar da tarde
Em vão abris o seio húmido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos
Em vão ornais a fronte à meiga Virgem
Em vão, como penhor de puro afecto
Como um elo das almas
Passais do seio amante ao seio amante
Lá bate a hora infausta em que é força morrer
As folhas lindas perdem o viço da primeira manhã
As graças e o perfume
Rosas que sois então?
Restos perdidos
Folhas mortas que o tempo esquece e espalha
Brisa de Inverno ou mão indiferente
Tal é o vosso destino, ó filhas da natureza
Em que vos pesa a beleza, padeceis
Mas não, se a mão de um poeta
Vos cultivar agora, ó rosas
Mais vivas e mais jubilosas, floresceis
Texto: MACHADO DE ASSIS