Com o Coração nas Mãos de Uma Rosa


Há cerca de cinco anos aproximadamente, durante um exame de rotina, foi-me detectado um aneurisma no coração. Depois de me terem sidos explicados os riscos e a melhor forma de contornar o problema, para que pudesse fazer a minha vida de forma natural e sem complicações, agarrei-me ao meu optimismo, que me valeu alguns louvores por parte dos médicos, e sem nunca entrar em pânico, fiz uma ligeira intervenção e coloquei um pequeno dispositivo de estanque, que impede que o sangue desagúe nos meus pulmões, e desde então a minha vida tem corrido de forma serena e sem percalços de maior.

Porém inexplicavelmente, a semana passada não consegui manter a mesma postura. Nunca tinha sentido algo assim e todos os meus sintomas apontavam que estaria perante um ataque cardíaco. Tentando manter a calma, que confesso, acabei por perder num ápice, liguei para a Saúde 24, que me colocou de imediato em contacto com o 112 e 5 minutos depois estava dentro de uma ambulância a caminho do hospital, onde era esperada por uma equipa médica e onde me foram feitos todos os exames de acordo com os sintomas que apresentava. Nada! Felizmente! Não acusaram nada! Estava tudo bem comigo e com o meu coração. Foi apenas um severo ataque de ansiedade, que me deixou com o coração nas mãos e quando ficamos com o coração nas mãos, mesmo que esteja tudo bem com o mesmo, temos de parar, abrandar um pouco e ponderar o que não está bem com o resto. Perceber o que motivou uma reacção de alerta no nosso órgão principal.

Foi-me recomendado um período de repouso, não absoluto, mas moderado e prudente. Como nestas coisas de saúde sou muito bem mandada, foi o que fiz. Tirei uns dias para mim. Tentei relaxar e colocar os pesos na balança e a cabeça no lugar e aos poucos fui recuperando a minha paz e a minha tranquilidade. Porém, e como já escrevi aqui uma vez, só nos é concedido o poder de controlarmos uma pequena e ínfima parte da nossa vida, e sem que nada o possa prever, um novo desafio põe-nos mais uma vez à prova.

Quando me começava a sentir francamente melhor e mais revigorada, recebi a triste notícia do falecimento do meu avô paterno. O Pantera, como eu e as minhas irmãs carinhosamente o baptizámos desde pequenas, pelo seu olhar verde e enigmático e pela sua força e energia, deixou de rugir com a bonita idade de 95 anos, vítima de uma pneumonia, seguida de uma queda no quintal. É a vida que acontece, que passa, que deixa marcas e nos fortalece enquanto erradamente nos convencemos que ficamos mais fracos. Percebi que o meu coração, apesar de ferido pela dor e dilacerado pela perda, é mais forte do que eu pensava. Percebi que as recordações daqueles que amamos, são o que nos consolam e nos ajudam a suportar o caminho inevitável de um percurso, que todos nós iremos percorrer um dia. Sentirei a sua falta, hoje e sempre!

O mundo das lágrimas é um mundo difícil, é um universo de memórias vivas e reais, que nos perfura a alma como os espinhos de uma rosa, mas tal como Machado de Assis escreveu - Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinhos e há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas. Saber sorrir, no fundo é saber aceitar - tal como as rosas sabem e aceitam - que toda a sua beleza e encanto são efémeros, mas a saudade deixada por cada pétala caída, essa, jamais será esquecida.

O meu muito obrigado a todos os que na minha ausência passaram por aqui e deixaram uma palavra amiga e de conforto. É nos momentos menos bons, que reconhecemos quem nos estima. Muito Obrigada a todos!

Helga

42 comentários:

Melga disse...

A vida tem sempre as duas faces a boa e a menos boa.
Agora que regressas quem sabe não vá eu partir!

Bjo*

Unknown disse...

Helga, muita força! kiss

Teresa Diniz disse...

Há sempre períodos menos bons na nossa vida, que nos põem à prova. Ainda bem que tens um coração forte :)
Bjs

Poetic Girl disse...

Oh Helga não faziamos ideia, espero que te sintas fisicamente melhor, pois sei que psicologicamente estás a fazer o teu luto e sei quanto isso dói. Agrarra-te a essas lembranças boas que tens dele, vai-te dar forças para enfrentar o resto. bjs

Johnny disse...

Eu acho que sou dos "que choram por saber que as rosas têm espinhos" e por isso, mesmo com um que não tem os problemas do teu/seu, provavelmente nunca hei-de ter um coração tão forte.

Ava disse...

Que bom que voltastes miúda. Já estava com saudades tuas, mas agora tenta descansar para voltares de novo cheia de força. Sinto a tua falta amiga e sabes que estou sempre ao braços abertos para quando precisares.

Um beiJJinho doce, Ava.

Jr Vilanova disse...

Querida amiga...

Suas palavras foram comoventes, tamanha a sinceridade e amor contidos nela! Li e reli com muito carinho...

Que bom que estás recuperada da saúde! Muito bom saber disso, mas não tenho como não perguntar: será que seu coração estava apenas prevendo e avisando sobre a partida do ente querido? Talvez...

Sobre as perdas e ganhos da vida, essas sim são inevitáveis e de toda convivência amorosa, restam sempre as lembranças boas e a certeza de um possível reencontro em algum momento...

Um bom fim de semana!
Jr.

Olga Mendes disse...

Hoje fizeste-me vir as lágrimas aos olhos. Lamento a perda do teu avô, tinha uma bonita idade e aposto que foi muito feliz e amado, pela forma que tu falas dele. Ainda bem que te encontras bem, a ansiedade provoca todo o tipo de problemas e o nosso corpo quando manda parar temos de parar. És uma pessoa forte, ninguém diria que passas-te por esse tipo de problema, porque realmente és a positividade em pessoa. Beijinhos e cuida de ti, por favor!

Daniel C.da Silva disse...

Um grande abraço sentido e solidário...

su disse...

querida, deixo-te um beijinho terno e um abraço apertadinho... fica bem...

luisa disse...

Helga,
Caminhamos todos na mesma direcção, embora por diferentes caminhos e com mais ou mais espinhos. Para mim, o melhor é mesmo escolher a opção de sorrir por saber que os espinhos têm rosas. Força para ti. É muito bom contar com a tua presença neste rede...

Alda disse...

Gostei muito de te ler...
Um abraço solidário e cheio de ternura! Força!
Beijinhos

Pena disse...

Olhe linda Amiga de sonho:
O seu coração é de ouro puro. Uma preciosidade que nunca adoece pela magistral beleza que há em si no que é.
Parabéns pelo texto. Bem esclarecedor da sua grandeza que Alguém vigia e guarda com carinho e dedicação.
MUITO OBRIGADO pela sua doce amizade.
Não quero que fique doente.
Tome precauções, POR FAVOR.
Beijinhos amigos mil ao seu maravilhoso talento e estima.
Com um respeito gigante.
Sempre a admirá-la

pena

Bem-Haja pela sua ternura no meu blogue.
É maravilhosa, sabia?
Cuide-se. Está-nos a fazer um favor a todos a sua deliciosa visita extraordinária.

Patricia Silva disse...

Tu és uma mulher forte, vais conseguir ultrapassar esta fase da tua vida.
Os bons momentos que passaste com o teu avô estão sempre contigo, nunca mais te vais esquecer deles. Hoje ainda me farto de rir com a minha irmã das coisas do meu avô, basta nós começarmos a falar dele.
Espero que já esteja bem melhor.
Bjocas
Patty

maria teresa disse...

Sinto-me honrada e admiro-a por ter partilhado estes seus momentos menos bons. Tal como diz, vai ficar mais forte, no seu coração ficará para sempre o seu avó e ele contribuirá para um pulsar ritmado.
Abracinho

GizeldaNog disse...

Minha querida Helga...
Fiquei tão feliz com seu retorno que nem sei por onde começo,mas...
vamos primeiro ao seu avô : as pessoas que amamos nunca morrem, elas ficam encantadas (Guimarães Rosa).Acredite!

E quanto a vc , um coração como o seu só pode ter muita força e muita vida.Olhando para seus " tesouros" ali ao lado, também consegui perceber de onde vem o alimento.
De qualquer maneira, que bom que vc voltou sã e salva!
Beijos.

Raquel Coelho disse...

Querida Helga,

Fiquei muito feliz com o teu regresso.

É bom saber que te encontras bem de saúde e há que pensar sempre positivo, a vida é só uma e temos de aproveitá-la ao máximo e da melhor maneira possível.

Quanto à perda do teu avô, compreendo perfeitamente o que sentiste e sentes, o que aprendi é que eles nunca morrem, permanecem vivos nas nossas lembranças.

Mil pétalas...

mz disse...

As notícias não são as melhores, mas é bom ter-te de novo aqui Helga.
Sinto muito a perda do teu avô, eles levam sempre um pouco de nós, não é?
Agora tu minha querida, muita força e espero que consigas ultrapassar essa ansiedade.




mil beijinhos

Helga Piçarra disse...

Melga, vai mas volta, ok? O mundo é um lugar público e não podemos banir os indesejados, já no nosso quintal, temos o poder de arrancar todas as ervas daninhas que destoam no nosso jardim. Lembra-te... a vida tem sempre fases boas e menos boas. Muita força, é o que te desejo!
Beijinho :)

Helga Piçarra disse...

Tulipa, muito obrigada! A tua presença sempre discreta e constante, é já um grande conforto para mim.
Kisses :)

Helga Piçarra disse...

Teresa, é nos momentos de crise e de dor, que descobrimos a nossa força. Obrigada pelas tuas palavras.
Beijinho :)

Helga Piçarra disse...

Bela, não tinhas como saber. E sim, as lembranças são tudo o que temos. Dói, mas ao mesmo tempo consolam-nos.
Um beijinho :)

Helga Piçarra disse...

Johnny, eu também choro por saber que as rosas têm espinhos, mas o que nos fortalece o coração e a alma, é perceber que os espinhos têm rosas. Tenta lembrar-te disso mais vezes e sorrir, verás que o teu coração ficará mais forte. Obrigada por teres sempre algo a dizer.
Um beijinho :)

Helga Piçarra disse...

Ava, que bom! Também já tinha saudades de voltar aqui. Obrigada pelo apoio.
Um beijinho :)

Helga Piçarra disse...

Junior, eu é que agradeço o carinho que sempre deixas neste blogue. Em relação à tua questão, não sei a resposta, apenas sei que tudo é possível e que ás vezes acontecem coisas inexplicáveis. Ele já estava mal e a verdade é que pensava muito em ir vê-lo, como se receasse não voltar a ter oportunidade para isso, e foi o que acabou por acontecer. Resta-me o possível reencontro em algum momento...
Um beijinho :)

Helga Piçarra disse...

Olga, não te queria fazer chorar, mas o momento era (e ainda é) muito delicado para mim. Agradeço imenso as tuas palavras. Sou realmente uma pessoa positiva e atrevo-me a dizer, que é o que me tem valido em muitas situações. Cuidarei bem de mim, não te preocupes.
Um beijinho grande :)

Helga Piçarra disse...

Daniel, agradeço e retribuo o abraço sentido. Muita força!
Beijinho amigo e igualmente solidário

Helga Piçarra disse...

Caminhante, recebi o teu abraço. Soube tão bem... Muito obrigada!
Um beijinho :)

Helga Piçarra disse...

Luisa, essa é a única verdade. Caminhamos todos no mesmo sentido. Eu também escolho a opção de sorrir. Muito obrigada pela força, também é muito bom saber que estás desse lado...
Um beijinho :)

Helga Piçarra disse...

Alda, muito obrigada pela força e pelo abraço, os quais retribuo com a mesma ternura.
Beijinho :)

Helga Piçarra disse...

Caro Pena, as suas palavras são sempre comoventes. O meu muito obrigado por estar presente neste momento. Agradeço igualmente a sua preocupação. Tomarei precauções.
Um beijinho de grande admiração :)

Helga Piçarra disse...

Patty, os bons momentos são o que nos ajudam a suportar a ausência, e felizmente tenho muitos, os quais recordarei sempre. Muito obrigada pela força.
Um beijinho :)

Helga Piçarra disse...

Maria Teresa, partilhar os momentos menos bons ajuda-nos muitas vezes a suportá-los melhor. Como disse e muito bem, o meu coração ficará mais forte. Muito obrigada!
Um beijinho :)

Helga Piçarra disse...

Gizelda, muito bonitas as palavras de Guimarães Rosa, e verdadeiras. Obrigado pelas mesmas. Os meus 'tesouros' são a minha maior riqueza e sem dúvida que me enchem o coração de força e de alegria.
Um beijinho grande e regresse também você cheia de força :)

Helga Piçarra disse...

Irina, muito obrigada pelas tuas palavras cheias de força e de pétalas de esperança. Também aprendi que os que amamos nunca morrem.
Mil beijinhos :)

Helga Piçarra disse...

MZ, são as notícias do percurso da vida, ainda que por vezes seja penosas. Tens razão, eles levam sempre um pouco de nós, mas gosto de acreditar que o que fica, é o que vale a pena recordar e nos dá força. Muito obrigada pela força e pela presença sempre carinhosa e constante.
Um beijinho grande :)

Eliete disse...

Helga espero que você esteja bem e que todo o sufoco já tenha ido para bem longe. Saúde e continue regando sau coragem e fé. bjs,Eliete

Fê blue bird disse...

Querida amiga:
Temos momentos na nossa vida que deixam marcas para sempre.
Podemos rir, fingir que está tudo bem, mas no fundo sabemos, que embora sejamos fortes, temos uma cicatriz que de quando em vez, sangra.
"Um dia de cada vez" é o meu lema de vida.
Um beijinho e um abraço apertado e as minhas condolências pelo falecimento do seu querido avô.

Helga Piçarra disse...

Eliete, muito obrigada pelas palavras de conforto. Estou bem, ainda um pouco inconformada, mas bem.
Um beijinho :)

Helga Piçarra disse...

Fê, rir ajuda, mesmo fingindo, pois todos os que já perderam alguém querido, mais cedo ou mais tarde acabam por perceber, que é a melhor forma de viver um dia de cada vez. O meu muito obrigada pelas suas palavras carinhosas e reconfortantes.
Um grande beijinho :)

Carlos Albuquerque disse...

Passei, e passo, por situações de saúde que, não sendo uma ameaça de vida, são, contudo, perturbadoras do meu dia-a-dia.
Talvez por isso me comoveu a leitura do que, de forma tão sensível e humana, escreveu sobre si. As palavras que se nos ditam são um espelho de nós, quer queiramos ou não. O seu texto revelou-me um ser forte, agarrando na vida com determinação e optimismo. A Helga pertence ao grupo dos vencedores. Contornará as pedras e ultrapassará as fendas da estrada da existência.
A dor da perda de um ente querido cava uma cova profunda que nos devora o peito. Instala-se na alma, doendo mais forte que qualquer padecimento físico. Perdi um filho, sei que assim é. Compreendo o que diz sobre o seu avô.
Desejo que ultrapasse esse momento.
Tudo de bom para si.
Abraço

Helga Piçarra disse...

Carlos, toda a perda de um ente querido é uma dor profunda, mas a dor de perder um filho, será com toda a certeza, a maior de todas as dores. Deixou-me de coração apertado saber que passou por isso. Perdi um bebé ainda por nascer e sei que sofri muito. Se pertenço ao grupo dos vencedores, então pertencemos os dois e contornaremos as pedras e ultrapassaremos as fendas da estrada da nossa existência.
O meu muito obrigada pelas palavras de força que aqui deixou, as quais lhe retribuo com carinho e sinceridade.

Um abraço