Intrigam-me, num sentido literal e quase assustador, as pessoas que não se deslumbram com uma simples flor do campo, com uma folha de Outono ou com uma mera gota de chuva. Intrigam-me as pessoas que não se emocionam com um filme, com um livro, ou simplesmente com um anúncio de televisão. As pessoas que não se sensibilizam com a doçura dos animais ou com a inocência das crianças. Entristece-me descobrir que cada vez mais estou rodeada de pessoas que não param para apreciar o céu ou ouvir o vento. Tenho consciência que não somos todos iguais, nem tão pouco temos que gostar das mesmas coisas. Aliás, nem poderia ser assim, o mundo tombaria num instante. Mas confesso que por vezes me sinto um pouco incompreendida no meu "excesso" de sensibilidade, e talvez por isso me esforce por tentar compreender e aceitar a falta dela nos outros. Tenho de o fazer, mas quando não consigo, apoio-me na ideia de que nos compensamos mutuamente com a partilha de opiniões e a troca de emoções. A minha sensibilidade é a minha força e não peço desculpa por isso, porque no fim, o que realmente importa é o que nos faz sorrir e o que nos aquece o coração. Se há quem prefira não sentir os pequenos e simples detalhes da vida, é uma opção à qual tem todo o direito.
Helga Piçarra