Coisas que Escrevo


Ainda não acreditava que estava ali, que tinha trocado o caos da cidade pelo canto das gaivotas, o trânsito infernal e o fumo dos escapes pelo cheiro do mar. Ainda não acreditava que tinha trocado Nova Iorque pela tranquilidade absoluta e paradisíaca daquele lugar esquecido no mundo e abençoado pelo Mediterrâneo. De cabelos soltos e de alma livre, Loraine segurava o leme do pequeno veleiro entre as mãos, traçando sem saber nas águas calmas e límpidas daquele mar imenso e cintilante, a rota do seu destino. Um destino escolhido ao acaso ou tão somente um acaso escolhido pelo destino. Não importava. Ao longe o eco da imaculada e singular brancura da encosta, devolvia-lhe uma paz infinita e nunca antes sentida, como se sempre tivesse pertencido a um lugar que não conhecia.

Esboçou um sorriso sereno e inspirou a brisa marinha e exótica, sentido cada poro e cada célula do seu corpo purificar com tamanha liberdade. Contemplou Peppe, que alheio à sua felicidade, amarrava o mastro da enorme e cândida vela. Amava tudo nele. Era perfeito! O sorriso doce e o olhar envolvente. O seu sotaque italiano e a maneira imperfeita com que prenunciava o nome dela. A forma como a olhava e a aconchegava nos seus braços fortes e ternos quando a noite caía. Sabia que não merecia tanto, mas não se atrevia a contestar a felicidade que sentia naquele momento. Um momento efémero e fugaz, em que tudo era único e especial. O Sol podia nunca mais acariciar a sua pele e a brisa suave e perfumada podia não voltar a brincar com os seus cabelos, mas aquele momento seria para sempre seu.

Quando regressou ao Hotel, Loraine estava exausta, mas inteiramente feliz. De sorriso pleno e repleto de satisfação, atirou o enorme chapéu de palha sobre a cama e de olhar extasiado de paixão, elevou-se nos bicos dos pés e rodeou o pescoço de Peppe com carinho.
- Obrigada pela tarde maravilhosa. Adorei!
- Eu também. - Confessou no seu sotaque melodioso, rodeando-lhe a cintura e acariciando-lhe com ternura a face quente e ainda ruborizada do sol - Que queres fazer agora? - Questionou com uma engenhosa inocência, sugerindo-lhe uma proposta irrecusável no seu olhar de menino traquina.
- Amar-te. Quero amar-te, Peppe. Quero amar-te todos os dias da minha vida.

Helga
'O Amor por Palavras' - 16 de Fevereiro de 2009

26 comentários:

lolita disse...

Que emoção ler estas linhas, amiga! Que saudades de ler as tuas emoções transcritas em palavras doces e ordenadas de forma tão peculiarmente tua.
Tens o dom da escrita, o dom da criação, e eu confesso que este momento foi um daqueles adoráveis momentos nostálgicos que me deixou emocionada e me deu vontade, de eu própria sonhar através das palavras.

Um beiJJJJJo Sentido, Ava

Alda disse...

Helga,
Obrigado por nos presentear com tão lindo texto, e parabéns por tão nobre dom!
Um beijinho de luz :)

maria teresa disse...

Helga, vou fazer uma pequena pergunta para me conseguir situar.
A Helga escreveu "O Amor por Palavras"?
Independentemente da resposta ser sim ou não, este texto é muito romântico, tem algum paralelismo com as "histórias" de Emile Brontë.
Está muito bem escrito!
Abracinho

PS-Deixei de a seguir aparentemente, quando "chamava" o seu blogue, fazia-o sem os traços e ia cair noutro que deve ter sido seu, como "naba" que sou nestas "manobras internéticas" andava totalmente confundida...

Unknown disse...

Muito bonito Helga! Kisses

Helga Piçarra disse...

Ava, ainda bem que gostaste de reler. Confesso que ainda sinto alguma insegurança em partilhar as minhas histórias inacabadas, mas fico contente que as minhas palavras te tenham inspirado.

Beijinhos :)

Helga Piçarra disse...

Maria Teresa, obrigada. Respondendo à sua pergunta... eu escrevi o texto que está publicado, ao qual dei o nome de 'O Amor por Palavras'. É uma história que tem seguimento para além destas linhas, mas que como tantas outras que escrevo, não está terminada (ainda).

Se existe uma obra publicada com o mesmo nome, desconheço, assim como desconheço as histórias de Emile Brontë, mas já anotei o nome e irei com certeza procurar conhecer, até porque agora fiquei curiosa com o paralelismo que falou.

O outro blogue a que a Maria Teresa ia dar, deve ser um que tenho de teste com o mesmo nome. Mas o importante é que já veio cá ter de novo, pois pessoalmente gosto muito de a ver por cá.

Beijinhos :)

Helga Piçarra disse...

Alda, muito obrigada. É sempre bom ler palavras de incentivo e de elogio ao que escrevemos. Obrigada!
Beijinhos :)


Tulipa, o mesmo digo das tuas. Muito obrigada!
Kisses :)

luisa disse...

Quando gostamos de uma história começada precisamos saber mais...
Fico à espera de mais um episódio, de outra cena. :)

Ana Cristina Cattete Quevedo disse...

Helga, que beleza de texto!
Tão simples, e ao mesmo tempo arrebatador!
Teremos continuação de suas histórias?

Beijo, moça

=)

rt disse...

Tratando-se de amor "agora" e "todos os dias da vida" casam muito bem. É por isso que o seu "divórcio" custa tanto.

Helga Piçarra disse...

Luisa, muito obrigada por teres gostado da minha história começada, mas a mesma não vai muito para além deste pequeno trecho. Quem sabe um dia destes lhe pego e lhe dou mais um avanço.
Beijinho :)

Ana Cristina, muito obrigada. Vindo de alguém com a tua sensibilidade literária, fico muito lisonjeada. Quanto à continuação, não sei, provavelmente publicarei apenas mais trechos como este. Pequenos retalhos das minhas (muitas) histórias inacabadas.
Beijinhos :)

Vera, em primeiro lugar obrigada por ter passado por cá. O divórcio custa sempre, principalmente quando acreditamos no 'eterno' das coisas. Mas o melhor mesmo é não pensar muito nisso e viver um dia de cada vez, afinal na prática, tudo é eterno enquanto dura.
Beijinhos :)

mz disse...

Olá Helga,
eu confesso que ao ler este texto, pensava que estava a ler uma parte de um romance de um escritor(a) conceituado.
E é de facto um romance, só que agora que li alguns comentários, apercebi-me que a autora és tu!

Se assim é, não pares querida HElga, agora tens leitores à espera de mais 'Amor por Palavras'

Abençoado Mediterrâneo... mesmo por momentos efémeros e fugazes!

beijinhos

Helga Piçarra disse...

MZ, muito, mas muito obrigada pelas tuas palavras. Elas foram realmente de grande incentivo e motivação. Depois de tamanho elogio, quem sabe se não volto ao Mediterrâneo para mais momentos efémeros e fugazes como este...

Beijinhos :)

Brown Eyes disse...

Helga os momentos que hoje passei aqui contigo foram magníficos. Tens o dom da escrita, como já aqui disseram,aproveita-o e delicia-nos. Beijinhos

maria teresa disse...

Querida Helga eu não quis dizer que escrevesse igual, não me soube explicar. Foi um elogio que lhe fiz, porque do meu ponto de vista e não só, Emile Brontë foi uma escritora que escrevia romances "suavemente" românticos,está entre as "clássicas".
Abracinho

...uma nota... disse...

Helga, não tenho palavras. Que lindo...

Não pares de escrever nunca, e dá o proximo passo e publica.

Beijo grande.

Eliete disse...

Helga penso que este é o sonho de todos nós-homens e mulheres- encontrar uma sintonia perfeita com alguém. Amar e ser amado. Parabéns, bjs, Eliete

Helga Piçarra disse...

Brown Eyes, eu é que agradeço as tuas palavras. Vens-me estragando com mimos ao longo dos posts publicados. Muito obrigada!

Beijinhos :)

Helga Piçarra disse...

Maria Teresa, isto de falar por palavras que não se ouvem, ás vezes tem os seus inconvenientes. É claro que entendi o seu comentário como em elogio, o qual mais uma vez agradeço. Pesquisei sobre Emile Brontë e fiquei muito lisonjeada. Ela é realmente um 'clássico' da literatura.
Abracinho :)

Helga Piçarra disse...

...uma nota..., muito obrigada! Publicar é um passo muito grande, mas agradeço a sugestão e o incentivo. Obrigada por teres gostado.

Beijinhos :)

Helga Piçarra disse...

Teresa (continuando...), terei muito gosto em passar pelo seu cantinho e conhecer a Alice.

Beijinhos e obrigada :)

Helga Piçarra disse...

Eliete, absolutamente! A interminável busca da felicidade e de uma alma gémea. Para mim escrever, é encontrar tudo isso em cada palavra. Obrigada!

Beijinhos :)

gizelda disse...

Consegui " ver" a cena descrita e invejei esses personagens. Momentos assim , fugazes,em cenários paradisiácos são os que a gente procura durante toda a vida. Algumas vezes eles acontecem, outras, aparecem em belos textos como o seu.
Beijos , linda.

Helga Piçarra disse...

Gizelda, eu também os invejo muitas vezes. O que seria da vida sem estes momentos? Mesmo que sejam apenas belos por palavras, valem sempre a pena pelo sonho que nos transporta. Muito obrigada!

Beijinhos :)

Olga Mendes disse...

O que queres que diga? Lindo, apaixonante, rômantico e encantador. Adorei! Beijinhos.

Helga Piçarra disse...

Olga, obrigada! É tudo o que posso dizer. Beijinho grande :)